O QUE ESTÁ EM JOGO (IV) OS REMAKES DO VELHO FILME “ERA UMA VEZ O NEOLIBERALISMO NA AMÉRICA”


Por Saile Rodrigues

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Para quem observa as cenas políticas no contexto das eleições de 2014 certamente não devem ter passado despercebidas duas performances no mesmo enredo, que busca explorar a emotividade do eleitorado, como se este fosse um mero expectador de uma novela ou filme, para mero entretenimento. Com a diferença que, ao fim, não terá que julgar o filme ou o desempenho dos atores, mas tomar decisões sobre os destinos do País.

A mídia monopolizada por poucos, a serviço de poucos e com clara identidade, partido e causa político-ideológica, pretende ser responsável, pela direção, produção definição, locações, definição do elenco de atores e atrizes, principais e coadjuvantes, distribuição e arremate dos resultados das bilheterias em que se transformariam as urnas eleitorais de outubro, cabendo às eleitoras e aos eleitores apenas rir ou chorar, conforme o gosto da combinação de emoções daqueles que buscam apresentar os remakes do mesmo filme neoliberal que, não obstante o preço exorbitante onde foi vendido mundo afora para eleitorados transformados em plateias, já demonstrou ser um tremendo fiasco.

As duas cenas que chamam a atenção são justamente sobre riso e choro, ambas em tomadas abertas e fechadas, no mesmo dia treze dos meses de agosto e setembro e com a mesma personagem, Marina Silva. Na primeira cena, no treze de agosto, em close aberto para mostrar a multidão, ela participa entre compungida e desenvolta do enterro de Eduardo Campos, o político transformado em herói morto, do qual a mocinha do filme transforma-se em herdeira política que, como manda o enredo, mesmo enlutada, acena para o público e até abre alguns sorrisos comedidos, mas que buscam a solidariedade popular para com a tragédia. O funeral é explorado ao máximo pela direção do filme, a grande mídia, com o intuito de provocar o máximo de emoção e suspense sobre as próximas cenas.

O filme prossegue e a nova heroína, ocupando o lugar do herói morto do qual deve empunhar a causa, agora é conduzida a ser a personagem principal, com pesquisas que pretendem medir o grau de emotividade das plateias, prendendo a atenção e conduzindo-lhes o ânimo. No próximo dia treze de setembro, em close fechado no rosto, a direção do filme mostra a mocinha em lágrimas, expressando a dor de sua condição de vítima de ataques daqueles que se pretende fazer crer ser sejam os vilões e vilãs do filme, entre as quais se destacam Dilma e Lula.

A direção do filme, como o apoio de câmeras de todos os ângulos, ao mesmo tempo em que mostram as lágrimas de sua candidata à heroína, exploram a exaustão o cenário a sua volta, em cenas que antecipam o apocalipse, com destruição e terra arrasada em que teria se transformado o País, nos governos de Lula e Dilma.

Bem ao gosto dos Tarantinos da mídia, a direção mostra cenas de violência, corrupção, desastres de todos os tipos na educação, saúde, segurança, transporte, gestão, inflação, desemprego. Além das cenas da catástrofe, a direção do filme traz o mocinho Aécio, personagem preferido dos produtores do filme, e figurante Pastor Everaldo para, com suas falas, descreverem e chamarem a atenção para as cores gritantes da tragédia nacional.

Para o desenrolar do filme esse cenário é essencial e  precisa ser explorado ao máximo, na tentativa de fixar na mente e no coração da plateia a indignação contra os vilões e a identidade com a heroína e o mocinho, os salvadores da pátria que retornam, liderando a Liga da Justiça, contra Lula, o imperdoável sapo barbudo, ignaro, inculto metalúrgico que ousou usurpar o trono só reservado aos escolhidos pelos produtores e que se recusa a seguir qualquer script da direção, e sua seguidora, a guerrilheira cruel e inaceitável Dilma.

Mas, para desespero dos produtores, banqueiros principalmente, e da direção dos Tarantinos da Mídia, a maioria do povo parece resistir a aceitar o papel de mera platéia, e os eleitores e eleitoras à mera condição de expectador e expectadoras. Pior, resistem aceitar a ver apenas a cenas de horrores apresentadas pelos pretensos diretores do filme, com as quais pretendem vender seu mocinho e sua heroína, cujas performances destinadas a despertar emoções solidárias, cada vez parecem o que são: falsas e dignas dos canastrões da política.

A “nova política” cada vez mais, inclusive pelos aplausos dos mesmos produtores e expectadores, revela-se como o remake da vela política neoliberal. E o povo, além de recusar-se a ser plateia que recusa os óculos 3D da mídia, agora parece tornar-se ainda mais rebelde, pois pretende assumir a produção e a direção do filme, escrevendo seu próprio enredo, com um final que em tudo contraria os interesses dos Malafaias, dos clubes militares, dos palpiteiros norte-americanos e, principalmente, dos banqueiros e setores mais reacionários da sociedade brasileira.

O cenário do Brasil atual, mais realista, nem paraíso nem inferno, apenas a terra de homens e mulheres dispostos a vencer desafios e serem melhores, sem precisar de heroína ou mocinho, contrastado com um país subserviente aos interesses externos, onde haviam milhões de excluídos, onde milhões passavam fome, onde a inflação e o desemprego, de fato reinavam, onde a corrupção era escondida e a impunidade imperava.

O cenário é de um Brasil que precisa continuar mudando, mas onde o povo não é platéia manipulável por quem pretende fazer com que a soberania popular seja exercida pelas emoções, para decidir segundo os interesses de poucos. O filme Outubro Livre é de um povo que assume o protagonismo de mudar sua própria História, onde Lula e Dilma não são heróis nem vilões, mas símbolos de homens e mulheres de carne e osso que encarnam o espírito de luta, de vontade, de fé, de esperanças de coragem, de coragem e trabalho para fazer de sua vitória e de sua história a vitória e a história de milhões.


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